Posso Usar Meu Dízimo Para Ajudar Necessitados, Obras e Missões?
- Saviva

- 10 de set.
- 5 min de leitura
Atualizado: 23 de set.

Poucos temas geram tantas dúvidas no coração dos cristãos quanto o uso do dízimo. Muitos perguntam: “Será que posso usar meu dízimo para doar alimentos, ajudar uma família carente, financiar a reforma da igreja, apoiar missionários ou até criar novas escolas cristãs?”
Essa questão é legítima e profundamente relevante. Em tempos de crescente desigualdade social, crises econômicas e novas formas de ministério, compreender o que a Bíblia ensina sobre o uso do dízimo é essencial para evitar distorções, equilibrar generosidade e fidelidade, e viver em paz diante de Deus.
Neste artigo, vamos percorrer com profundidade o tema, trazendo fundamentos bíblicos, históricos e práticos para responder essa pergunta com clareza.
O que é o dízimo segundo a Bíblia?
A palavra “dízimo” vem do hebraico ma‘aser, que significa “a décima parte”. Desde os tempos do Antigo Testamento, o dízimo foi estabelecido como prática de entregar 10% dos ganhos ao Senhor, reconhecendo que tudo pertence a Ele (Levítico 27:30).
Em Israel, o dízimo tinha finalidades muito claras:
Sustento dos levitas e sacerdotes – que não possuíam terras, mas se dedicavam ao serviço do templo (Números 18:21).
Manutenção do culto e das celebrações religiosas (Deuteronômio 12:5-7).
Ajuda a necessitados – o dízimo do terceiro ano era separado para órfãos, viúvas e estrangeiros (Deuteronômio 14:28-29).
No Novo Testamento, Jesus não aboliu o dízimo, mas trouxe uma dimensão mais profunda: a fidelidade não está apenas na porcentagem entregue, mas na motivação do coração. Ele repreendeu os fariseus que dizimavam até da hortelã, mas negligenciavam justiça, misericórdia e fé (Mateus 23:23).
Assim, o dízimo continua sendo um ato de adoração, fidelidade e provisão para a obra de Deus, mas sempre acompanhado de generosidade e amor.
Posso usar o dízimo para doar alimentos ou ajudar necessitados?
Essa é uma das perguntas mais comuns. Afinal, ajudar quem passa fome ou necessidade não seria um uso legítimo do dízimo?
A Bíblia mostra que a assistência social fazia parte do sistema de dízimos em Israel (Deuteronômio 14:28-29). Porém, há uma diferença importante: o dízimo não era usado de forma individual e isolada, mas trazido à “casa do tesouro” (Malaquias 3:10), para que os responsáveis (sacerdotes/levitas) administrassem conforme as necessidades do povo.
Portanto, o princípio bíblico é que o dízimo deve ser entregue à igreja local, que tem a responsabilidade de gerir parte dele em favor dos necessitados. Isso não significa que o cristão não deva doar alimentos ou ajudar famílias, pelo contrário, esse é um dever contínuo de amor (Tiago 2:15-16). Mas essa ajuda faz parte das ofertas voluntárias, e não do dízimo.
Posso usar o dízimo para reformar a igreja?
A manutenção da estrutura física da igreja é parte da missão da comunidade cristã. No Antigo Testamento, o dízimo também financiava a manutenção do templo. Hoje, as igrejas precisam de recursos para reformas, expansão, climatização, acessibilidade e melhorias que permitam melhor acolhimento dos fiéis.
Nesse caso, a resposta é sim, o dízimo entregue à igreja pode e deve ser administrado também para manutenção e reformas, já que isso faz parte do serviço da casa de Deus.
O que não é bíblico é o membro decidir por conta própria usar o dízimo para pagar uma obra ou comprar materiais de construção. O correto é entregar fielmente o dízimo à igreja, e a liderança decidir como aplicá-lo.
Posso usar o dízimo para missões, criação de igrejas e envio de missionários?
O chamado missionário é central no evangelho: “Ide por todo o mundo e pregai o evangelho a toda criatura” (Marcos 16:15). Mas como essa obra é sustentada?
Historicamente, as missões sempre foram financiadas por dízimos e ofertas. A igreja primitiva partilhava seus bens, e os apóstolos eram sustentados para pregar (1 Coríntios 9:13-14). Hoje, o envio de missionários, a implementação de igrejas e o sustento de ministérios globais só é possível graças ao recurso que vem da fidelidade do povo de Deus.
Portanto, é correto que parte do dízimo da igreja seja destinado às missões. Contudo, isso deve ser feito pela gestão da comunidade, e não por decisão individual.
Se o cristão sente chamado específico de apoiar um missionário ou projeto, pode fazê-lo por meio de ofertas missionárias além do dízimo.
Posso usar o dízimo para criar escolas cristãs?
Educação é um dos campos mais poderosos de transformação social e espiritual. Criar escolas, bolsas de estudo e projetos educacionais está em sintonia com a missão integral da igreja.
No entanto, aqui é importante diferenciar: o dízimo entregue à igreja pode sim, se a liderança entender, ser aplicado em projetos educacionais, pois isso se enquadra na obra do Reino.
O que não é bíblico é o cristão reter o dízimo e aplicá-lo diretamente em um projeto pessoal de escola, ONG ou iniciativa, ainda que seja algo bom. Nesse caso, o ideal é entregar o dízimo na igreja e, paralelamente, fazer uma oferta específica para apoiar o projeto educacional.
O princípio central: Dízimo é entrega, ofertas são direcionamento
Depois de todas essas reflexões, podemos resumir em uma chave:
Dízimo é sempre entregue integralmente à igreja local, como ato de adoração e confiança. Não cabe ao cristão decidir sozinho como aplicá-lo.
Ofertas são contribuições voluntárias, que podem ser direcionadas a causas específicas: famílias carentes, missionários, construção de escolas, ONGs, ministérios etc.
Misturar esses dois conceitos gera confusão e até injustiça. Quando desviamos o dízimo para causas que achamos importantes, estamos de certa forma assumindo um papel que biblicamente cabe à comunidade e seus líderes.
Por que Deus instituiu o dízimo dessa forma?
Para reconhecer a soberania d’Ele sobre tudo o que temos: O dízimo não é uma taxa, mas uma declaração: “Senhor, tudo é Teu. Eu só devolvo uma parte como sinal da minha confiança”.
Para sustentar a obra coletiva: O Reino não se constrói com ações isoladas, mas com comunidade. O dízimo, centralizado, garante justiça e equilíbrio.
Para disciplinar o coração contra o egoísmo: A entrega regular do dízimo nos ensina a viver pela fé, não pelo cálculo exato de segurança financeira.
Como viver esse princípio na prática?
Separe o dízimo primeiro. Não espere sobrar: trate-o como prioridade espiritual.
Entregue na igreja local. Essa é sua família espiritual; é nela que você é alimentado.
Ofereça além do dízimo. Quando sentir compaixão ou visão missionária, faça uma oferta específica.
Confie na liderança. O uso do dízimo é responsabilidade dos líderes diante de Deus. Ore por eles.
Mantenha o coração livre. Se houver má administração, Deus é justo para julgar. Sua fidelidade não depende da perfeição humana.
Conclusão: o dízimo é fidelidade, as ofertas são generosidade
A pergunta inicial posso usar meu dízimo para causas sociais, missões ou educação? encontra uma resposta equilibrada: o dízimo deve ser entregue à igreja local, enquanto as ofertas podem e devem atender a todas essas causas específicas.
Assim, o cristão vive dois princípios complementares: fidelidade no dízimo e liberdade nas ofertas. É dessa forma que garantimos tanto a manutenção da obra de Deus quanto a expansão missionária, o cuidado aos necessitados e a transformação social.
“Honra ao Senhor com os teus bens e com as primícias de toda a tua renda; e se encherão fartamente os teus celeiros, e transbordarão de vinho os teus lagares.” (Provérbios 3:9-10)
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